"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo..."

Friday, November 24, 2006

Toda a loucura da vida

(Créditos Imagem: Getty Images, by Photodisc)

"O que eu quero é o que eu penso e o que eu faço", falou Raul Seixas. Queria ser assim. Mas no momento, nem sei mais o que quero. Nem sei mais o que eu sou. E só penso em coisas transloucadas ultimamente. A paixão parece já não ser mais um elemento fundamental à mim. Muito menos a necessidade de estar envolvida. Alguns objetivos tão importantes tempos atrás estão ficando pelo caminho. Tenho sentido vontade de fugir. Fugir da cidade, fugir do país, fugir do planeta, vontade de ir para o lugar mais distante possível de mim. Acho que cansei de mim. Ao menos, pelo momento. Queria entrar na mente de outra pessoa como acontece no filme "Quero Ser John Malkovich". Não necessariamente de uma pessoa famosa, mas de alguém. Variar de pensamento um pouco. Ter outros pontos de vista. Apreciar mais fruta que pão. Gastar dinheiro por gastar.
Minha vida parece ter se estagnado entre o céu e o inferno, e acho que gostou da posição meio-termo. Tenho arriscado mais, tenho me escondido mais, tenho me preservado mais, tenho gritado mais. Às vezes me sinto como se fosse uma artista renomada do século passado, perdida nesta sociedade do espetáculo. Em outros momentos, me sinto como um ser totalmente incapaz e julgo que todos os outros, sem exceção, sabem fazer melhor que eu. A poesia tem me feito companhia mas tem retratado uma vida, ao menos, imaginária. Não é nem tanto pelo tédio. O tédio ultimamente é embalado aos acordes sujos de guitarra do final da década de 60, e isto o torna um pouco atraente. Tampouco necessito de venenos antimonotonias.
Queria achar a mente de alguém escondida por aí. Explorá-la por alguns minutos, me perder em outra realidade. Queria sentir outros cheiros e sofrer outros cortes. Possuir outro corpo, ou quem sabe, dois corpos ao mesmo tempo. Masculino e feminino. Para que haja estabilidade.
Estou precisando de pão. Estou precisando ser necessidade de alguém. Estou precisando agir por alguém. Estou precisando de remédios que controlem a sanidade mental. Estou precisando de venenos não tão nocivos assim. Estou precisando ser alguém que não eu mesma. Mas como fazer isso de modo original? Como fazer isso sem ferir meus ideais político-filosóficos-sociais? Não sei.
Nem sei se preciso disso tudo. Nem sei se isso me caíria sob medida. Só preciso neste momento de toda a loucura que houver nesta vida e nas outras, passadas e futuras. Só disso.


(Vivendo sob toda a loucura da minha vida de altos e baixos, em meio à toda esta sociedade do espetáculo, escrevendo ao som de Cássia Eller e Pink Floyd... e sempre pensando, pensando até demais!)

Monday, November 20, 2006

Like a Rolling Stone

"How does it feel
How does it feel
To be without a home
With no direction home
Like a complete unknown
Just like a rolling stone"

É com estes versos, talvez os mais famosos de Bob Dylan, que começo a escrita de hoje. Adoro esta música. Antes prefiria a versão dos Rolling Stones, mas aprendi a apreciar a versão do rei do Folk Rock também. Porém, deixando o papo musical de lado, acho estes versos geniais. São frases que deveríamos perguntar a si mesmos sempre que estamos insatisfeitos com nossa vida, com nossos amigos, com nossa família, com nosso relacionamento, com nosso trabalho, mas ao mesmo tempo sentimos uma imensa preguiça de se levantar da cadeira e fazer alguma coisa. Acho que não há denominação melhor para a preguiça, do que ser um pecado capital. Sem entrar no mérito religioso da questão, até porque este não me interessa. A preguiça é um dos grandes males do ser-humano. É um de nossos grandes defeitos. Apreciamos o cômodo. Nós acostumamos as situações e nos conformamos com nossa vida com muito mais facilidade do que nos conformamos com a posição de nosso time do coração no campeonato de futebol. Inversão de valores? Talvez. Mas esta não é a questão principal. O mais assustador nesse costume é que ele acontece a todo instante. Vai nos acontecer pelo menos uma vez na vida. Acredito que pelo menos uma vez, em nossa curta existência humana, vamos nos conformar com a mesmice das coisas e ficar esperando elas mudarem sozinhas, por pura preguiça, que assume várias outras denominações nesse caso como timidez, medo, cautela... É preguiça. Até porque se pensarmos na questão, qual seria o motivo de ficarmos parados vendo nossos aniversários passarem, senão a aversão a qualquer ação de mudança? Dá trabalho agir. É cansativo. E ainda é arriscado, pois as coisas nem sempre irão correr da forma planejada. Já tive muita preguiça nesse sentido. Durante muito tempo, tinha como passatempo preferido reclamar da minha vida, reclamar de Deus e reclamar porquê a vida das outras pessoas era melhor que a minha. Mas acordar pensando: 'as coisas não estão muito bem por aqui. Hora de mudança!' que é bom, nada. Quer dizer, acordei um dia, depois de levar um tombo muito feio ao dormir. Mesmo assim, antes, continuei um bom tempo dormindo no chão, mesmo ele sendo frio e desconfortável, por pura preguiça de me levantar e subir na cama novamente. Porém, há pessoas que nem tombos levam enquanto dormem. Há milhares de pessoas que continuam dormindo no chão, sentindo frio e achando-o duro demais, até o fim de suas vidas. Depois de um tempo, nem é mais preguiça. As pessoas desistem. Desistem de seu dom mais precioso. O que além de curioso, não deixa de ser bizarro. Não digo que a preguiça não me ronde mais por completo. Mais somente ronda as coisas menores. A maior coisa de todas voltou a ser controlada por mim. E eu pretendo continuar controlando-a, até o fim da jornada. Portanto, se algum dia você se sentir infeliz com algo ao seu redor, pergunte à você mesmo: "Como você se sente estando sem um lar, sem direção, como um completo desconhecido dentro de sua própria vida?" É realmente mais fácil ficar em ócio como uma pedra e deixar a vida lhe fazer rolar. Então, você, a pedra, irá rolar, rolar, e rolar. Mas nunca se esqueça. Pode haver um precipício em qualquer lugar. Você prefere rolar ao encontro dele ou se levantar e dar meia volta? Pense nisso.

(Um obrigado especial à Bob Dylan (que não irá ler isso but that's ok), por existir e ter feito um dos melhores discos que já ouvi, "Highway 61 Revisited", onde está a música que serviu de inspiração para este post e tantas outras músicas boas. E àqueles que se interessaram pelo assunto, assistam ao filme 'Beleza Americana'. Um dos filmes que melhor retrata como essa "preguiça" está mais presente em nossa vida do que parece. Beijo a todos.)

*texto escrito em algum mês do primeiro semestre deste ano, não me lembro qual exatamente. Mas que resgatei hoje porque estou precisando de um incentivo contra à preguiça.

Thursday, November 16, 2006

Todo Karma para Toda Ação

(Créditos da imagem: Getty Images, fotógrafo John Knill)

Ação.
O ato de agir perante alguma circunstância.
O ato de atuar na própria vida seguindo um padrão determinado. Ou não.
O fazer sem pensar que está fazendo.
Não há pensamento, nem planejamento.
Há apenas necessidade, disciplina ou vontade de viver sob rotação constante.


Reação.
Ação que vêm do impulso.
Impulso que vêm do instinto humano de ser.
Quem sabem, uma oposição à idéia da açãoz.
Quem sabe, uma resistência à ordem das coisas e às idéias progressistas.


Toda ação gera uma reação.
Assim diz uma lei da química ou da física, não sei ao certo qual das duas.
Química esta, que nada mais é, do que uma dedicada estudiosa da natureza, de seus corpos, e das relações e atuações entre o um e o outro.
Relações que podem ser positivas ou negativas.
Relações que podem dar origem à combinações totalmente diferentes.
Relações que de tão visadas, parecem criar espírito próprio.
Física outrem, que valoriza as propriedades gerais da matéria e suas leis, que por toda hora, tentam modificar o espaço ao seu redor e o estado de si própria, sem alterar sua composição íntima em nenhum momento.
O íntimo é nosso, e somente nosso.
E há todo um encanto por trás do íntimo.
Quase nenhum íntimo é protagonizado por mais de uma pessoa, ao mesmo tempo.
Quase nenhum íntimo é intacto à uma evocação pessoal vaidosa.
Não sabemos o real valor do íntimo. Nem sua real beleza.
Na verdade, poucos se dão conta de que ele é realmente real...


Toda ação gera um reação de força e sentido contrário.
É este o berço da consequência.
Talvez, a conclusão de um árduo trabalho de pesquisa.
Talvez, a dedução de algum dado importante.
Talvez, a decepção que nasce de uma precipitação sem motivo.
Mas não é pelo fato de ser gerada pelo talvez (e somente pelo talvez) de um vasto mar de possibilidades, que a consequência tem uma menor importância.
Esta se gradua conforme notificação dada por nós mesmos.
Cada um tem seu próprio grau de importância.
Cada um tem sua lista de prioridades.
E ela é nossa. Ela faz parte do nosso íntimo.


Toda maldade tem seu preço.
Toda bondade também.
Este preço não vêm tabelado.
Cada um de nós escreve sua própria tabela de preços.
E todo preço vêm com juros.
Que não serão cobrados a mais ninguém, além de nós.
Os juros que pagamos por nossas ações e suas consequências também fazem parte do íntimo de cada um.


E segundo dizem alguns, há um lugar onde os méritos e deméritos se encontram e se tornam um único ser.
Há um lugar onde não existe nada mais que verdade e conhecimento.
Seram os seres humanos seres encantados, encarnados e consequentemente, imortais?
Haverá sentido em viver senão aquele que busca a evolução do íntimo?
Talvez a resposta desta pergunta seja positiva.
Talvez haja uma estrada até o nirvana.
Talvez a libertação exista de fato.
Talvez o ápice não seja impossível, e a perfeição seja alcançável.
Mas antes de qualquer consequência, há o próprio ato.
E a única certeza que temos até agora é que toda ação, seja esta boa ou má, é karma.
E há somente uma relação que podemos fazer diante de tudo isso:
(Não sabemos se seu cume é físico, químico, teológico ou biológico)
Apenas sabemos que para toda ação há um karma; para todo karma há uma ação.
Somente isso.


(trilha sonora: Ok Computer, Radiohead, um dos discos mais lindos do mundo. Thom Yorke, você é um gênio. E eu dedico este texto de cume filosófico à você.)

Wednesday, November 15, 2006

O canto das luzes coloridas

(Créditos da imagem: Getty Images, fotógrafo David De Lossy)

Ela chegou. Estava se sentindo um lixo. O vestido escolhido para a noite foi surpreendido por um ferro elétrico fora de controle, que deixou marcas provavelmente sem remoção em seu tecido azul-turquesa. O jeito foi usar o pretinho básico. Pensando bem, nos momentos em que se sente um lixo, nada melhor que um pretinho básico.
Ela circulou. "Nada de novo", pensou. E esta afirmação era verdade. Não havia nada de novidade naquela festa. Os rostos eram todos conhecidos e todas as músicas tocadas até o momento já eram conhecidas da estação de rádio favorita de seu irmão mais novo, que cismava em escutar música no último volume de seu quarto, que era vizinho ao dela.
Ela se sentou. Achou que era o melhor a ser feito. E permaneceu sentada durante uns longos 10 minutos, apenas observando com desinteresse a movimentação da festa. Naquele momento, se arrependia de ter ido. Mais não se surpreendeu com este pensamento. Sempre se arrependia de comparecer à festas de 15 anos. Aliás, este havia sido o principal motivo da decisão tomada alguns anos antes, após uma discussão de dias com a mãe: não iria realizar a sempre esperada pelas meninas, festa de debutantes. Entre todas as pequenas razões, a principal era o fato de não querer correr o risco de ir embora da própria festa antes dela acabar.
Ela pensou em ligar para o namorado, que não foi à festa com ela. Mas desistiu. Ele iria rir da situação em que ela se encontrava. Especialmente, por também ser um não-entusiasta de festas de 15 anos, ainda mais quando a decoração era toda de balões cor-de-rosa com lilás, e havia um grande mural para se escrever declarações à aniversariante.
Ela se levantou, foi até o bar e voltou ao seu lugar. Mas quando chegou à sua cadeira no canto privilegiado, com vista lateral para a pista de dança, teve uma surpresa: seu lugar estava ocupado por uma pessoa que se destoava bastante das outras. Ele tinha olhos castanho-esverdeados, usava um boá cor-de-rosa bebê ao pescoço e vestia um colete enfeitado com lantejoulas. Ao ver que uma menina o encarava, sorriu e perguntou:
_Oh, você estava sentada aqui?
A resposta que obteve foi positiva. Mesmo assim, não se intimidou. E falou:
_Bem, para você estar sentada, deve estar entediada com a festa. Então, eu lhe dou duas opções: arrume uma cadeira, sente-se ao meu lado e vamos conversar até a música parar de tocar ou vá embora querida, pois a sua cara emburrada está em contraste com as caras felizes dos semi-bêbados da pista de dança!
Ela também não se intimidou com a resposta. Procurou uma cadeira vazia, a levou até o lugar onde estava seu antigo assento e se sentou, esperando o menino falar alguma coisa.
Ele perguntou quais eram as razões dela estar se sentindo tão desconfortável numa festa onde 95% das pessoas chegam felizes e outros 99% retornam felizes à suas casas. Ela lhe explicou o incidente com o vestido, a ausência do namorado e sua teoria sobre festas de 15 anos.
Ele apenas balançou a cabeça e resmungou qualquer coisa. Menos de 1 minuto depois, fez um comentário, acompanhado de uma proposta, que para uns soaria interessante, e para outros, indecente:
_Sabe, também não estou gostando muito desta festa. Os adolescentes de hoje em dia acham que ficar bêbado aos 15 e rebolar até o chão é o máximo da transgressão. Coitados. Mal sabem que mais importante que transgredir é se divertir. Ou como dizem os americanos, "have a good time". Então... você quer fugir?
Desta vez, ela se impressionou com o comentário. Não esperava aquela proposta. Mas aceitou, sem nem pensar direito. E recebeu em troca a seguinte promessa:
_So, let's have the time of our lifes, pequena ruiva!!
O trajeto até o local de destino durou uns 15 minutos. E teve direito à trilha sonora. Que momento era sair correndo pelas ruas, ao lado de uma criatura totalmente colorida, que cantava a plenos pulmões David Bowie em sua fase glam-rock! Então, se viram em frente à um lugar cuja fachada chamava a atenção pelas luzes que saíam de dentro do recinto, tão intensas que chegavam à refletir na rua. Dava um pouco de medo abrir a porta e encarar aquelas luzes, que pareciam mais vivas do que muitas pessoas que passavam pela rua. Mas o medo passou assim que a porta se abriu.
Lá dentro estava um mundo paralelo. Um mundo onde todos eram coloridos. Um mundo onde a música que se ouvia não permitia que ninguém ficasse parado. Um mundo onde as luzes tinham vida própria. Ela estava se sentindo intimidada. Mas logo uma das criaturas coloridas veio em sua direção, e perguntou qual era seu nome:
_Laura._ foi a resposta
O seu companheiro de fuga e o ser colorido que havia feito a pergunta se entreolharam e disseram juntos:
_Bem vinda ao Canto das Luzes Coloridas, Laura!
E ela aceitou a recepção como um convite à pista de dança. Lá, se esqueceu da nota tirada no teste da faculdade, na discussão tida com a mãe pela manhã, da chateação com o namorado, do vestido azul que se queimou, de estar usando um pretinho básico, dos adolescentes irritantes que povoavam sua visão até poucos instantes atrás.
Lá, na pista de dança, se rendeu aos clássicos de Blondie e Abba, e às novas músicas "alegrinhas" feitas por um conjunto oriundo de Nova York, que eram fãs de Elton John e cantavam versos incentivando as pessoas à levarem suas mães para dançar(!!!).
Lá, Laura se esqueceu por alguns instantes de si mesma e dos problemas que a rodeavam. Ela simplesmente se rendeu ao balanço de seus pés e deixou a energia vinda das luzes que piscavam no globo invadir sua alma.
Bem mais tarde, por volta das 4h30 da manhã, chegou em casa, com um sorriso pleno no rosto. Talvez por ter se divertido como nunca em muito tempo. Talvez por ter dado seu número de telefone à Jack, o ser que lhe abordara ainda na entediante festa de 15 anos, e ter lhe obrigado a prometer que a chamaria para fugir outras vezes. Talvez pelo boá azul-turquesa que se encontrava em seu pescoço. Talvez pela lembrança de se sentir livre naquela pista de dança ainda estar em sua mente. Talvez por causa das luzes, que com certeza invadiriam seus sonhos, assim que ela deitasse na cama. Talvez por saber que as luzes estarão sempre no mesmo local, ao seu alcance. E que deve partir dela a iniciativa do próximo encontro com elas.
Não importa qual for o motivo, agora Laura sabe. As luzes coloridas estão sempre ao nosso alcance. E elas são emitidas através de nossos sentimentos reprimidos, muitas vezes, escondidos sob pretinhos básicos...


Conto inesperado (ao som de Scissor Sisters, que foi a inspiração para as linhas deste post)

Monday, November 13, 2006

Filosofando inesperadamente (sobre dias de véspera e ações impulsivas, em nome do amor em que se acredita)

(Créditos da imagem: Getty Images, fotógrafo Per Eriksson)

Hoje é um dia de véspera, como muitos outros que acontecem nessa vida. Há vários deles: véspera de Natal, de aniversário nosso, de aniversário dos outros, de Páscoa, de Ano-Novo, de final do campeonato brasileiro de futebol, entre outros exemplos que poderiam ser naturalmente citados. Mas esta véspera é diferente: não foi uma véspera premeditada, pré-programada, longe disso. É uma véspera vinda do acaso, nascida depois de muitas reflexões, suposições e palavras repetidas pela voz da consciência. Nem por isso, é menos especial que qualquer outra véspera.
Qual é a magia por trás de um dia de véspera? Muitas: ansiedade, um pouco de medo do que virá, um pouco de pavor de si mesmo, uma insegurança quase sempre presente nas relações humanas, e suposições, suposições, suposições, sejam estas otimistas, pessimistas ou neutras (se é que existe alguma suposição que seja por inteiro neutra, analisando-se todos os pontos de vista).
Qual é a magia por trás de um impulso? Algumas: o sentimento de coragem que ronda o espírito, a auto-confiança presente em todos os momentos, que se esvai misteriosamente na hora da ação real, uma felicidade estranha por temer e não temer o desconhecido, talvez lágrimas (no meu caso sim, muitas lágrimas), risos nervosos e uma estranha sensação de quem é dono de si mesmo, que nos faz ter a certeza de que aquele momento será o mais importante da vida até então.
O que falar, então, de um dia que se torna véspera por conta de um impulso? Não sei. Na verdade, não faço idéia. Queria saber quais são as exatas relações entre os dois mas estou amedrontada demais para pensar em qualquer coisa. Será que as ações tomadas por impulso valem tanto quanto as planejadas ou será que valem mais, por serem mais difíceis? Ou será ainda, que o grau de dificuldade é o mesmo em ambas as situações, mudando de ser humano para ser humano? Não sei. Mas queria saber isso. Talvez me acalmasse. Talvez não.
Acho que não sei mais nada no exato instante. Minhas unhas já se foram. Meu cabelo está um caos. Meu apetite desapareceu e o sono está inquieto, sem saber se quer embarcar na madrugada fria e fazer o amanhã chegar mais rápido ou se adia por quanto tempo for possível os sons emitidos pelos galos da região, que nos fazem despertar na hora certa, mesmo quando não é o que queremos.
Só sei que qualquer coisa é válida quando o amor está em jogo (que frase piegas!). Um amor que nem sabe se ainda é amor de verdade mas que tem a plena certeza de já ter sido um dos mais ternos e raros que existem por aí. Por trás deste amor, há um coração descrito pelos versos de Arnado Antunes, "que não está sentindo nada, nem medo, nem calor, nem fogo", mas não vê a hora de sentir novamente. E no momento, apenas o sentir é suficiente. Quer dizer, seria mais do que suficiente se fosse pra sentir com você, mas isso é outra história...
Uma coisa é fato: uma ação impulsiva não é determinada seguindo a idéia de 'não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje' pois não há racionalidade de fato por trás do impulso. E penso comigo que isto não é de todo ruim. Há ações que não tem outro modo de ser, se não forem impulsivas. Mas o impulso já está pré-planejado... E com ele, vem o dia da véspera, que deixa de ser um dia comum, para ser o dia D (no caso, De Véspera). E qual será o real significado por trás disso tudo? Aliás, será que tudo precisa ter um significado? Será que algumas coisas não podem existir só pelo fato de existirem, sem explicação detalhada?
Ai, ai, ai... Na verdade, adoro agir impulsivamente. Adoro dias de véspera. Adoro ações em nome do amor (e em nome de mim mesma), sejam estas determinadas ou não. E adoro, simplesmente adoro, filosofar inesperadamente.


Filosofia inesperada, a primeira de muitas... (ao som de Marisa Monte)

Saturday, November 04, 2006

Eu aprendo, tu aprendes, ele aprende, nós juntos aprendemos...

(Créditos da Imagem: Getty Images, fotógrafo Frank Walsh)

Alanis Morissette - You Learn
I recommend getting your heart trampled on to anyone
I recommend walking around naked in your living room
Swallow it down (what a jagged little pill)
It feels so good (swimming in your stomach)
Wait until the dust settles
(chorus)
You live you learn
You love you learn
You cry you learn
You lose you learn
You bleed you learn
You scream you learn
I recommend biting off more than you can chew to anyone
I certainly do
I recommend sticking your foot in your mouth at any time
Feel free
Throw it down (the caution blocks you from the wind)
Hold it up (to the rays)
You wait and see when the smoke clears
(repeat chorus)
Wear it out (the way a three-year-old would do)
Melt it down (you're gonna have to eventually anyway)
The fire trucks are coming up around the bend
(repeat chorus)
You grieve you learn
You choke you learn
You laugh you learn
You choose you learn
You pray you learn
You ask you learn
You live you learn

Esta música é faixa do primeiro disco da Alanis Morissette, "Jagged Little Pill". Ela é uma das minhas músicas favoritas e é uma música que para mim, significa redenção, serenidade, pois sempre que a ouço, soa como se tudo ao meu redor me inspirasse a ser uma pessoa melhor, e como se cada acorde na canção, me dissesse, indiretamente: 'ei, aproveite a vida enquanto é tempo'. E mais do que nunca eu tenho ouvido esta música. Porque mais do que nunca, eu estou a fim de viver.
Muitas coisas contribuíram para esta reação: a morte de um jovem cheio de vida, a proximidade do fim de um ano estranho, surpresas que acontecem em momentos inesperados vindo de pessoas inesperadas, o tempo que não se firma entre calor, mormaço ou frio, as paixões que a toda hora invadem meu coração e vão embora com a mesma pressa com que entraram, os planos borbulhantes sobre um futuro desconhecido... enfim, muitas coisas fizeram a "rainha do drama", Anna Luiza, trocar o sofrimento opcional por um melhor aproveitamento da vida.
E tomando as palavras da Alanis como guia de inspiração agora...

Eu recomendo ter o coração preparado a todo instante pois nunca se sabe o que vai acontecer. Como se faz isso? Deixando a voz que vêm dele emitir opinião em todas as situações.
Eu recomendo andar nu não só pela sala de estar, mas como pela casa toda, talvez pelo jardim todo também. Dormir nu também é bom. Afinal, devemos aproveitar a boa liberdade que temos. Quer maneira melhor de se sentir livre do que estando sem roupas?
Não tome pílulas desnecessárias. Elas irão tomar conta de você. Nos momentos difíceis, apenas deite na cama, chore se tiver vontade de chorar, mas não faça nada até a calma chegar ao seu espírito novamente.
"Eu recomendo dar o passo maior que a perna", disse a Srta.Morissette. Eu não sou canadense mas também recomendo. Não existe momento certo para se arriscar. Existe somente o agora para se agir. E muitas ações dependem de riscos. Riscos dos quais temos medo, que nos faz agir com omissão. Mas não podemos jamais ser omissos quando o assunto é nossa própria vida.
"Eu recomendo cometer gafes a qualquer hora", diz a música. Eu recomendo também. A gafe é fruto da sociedade moralista, que julga os outros a todo instante, e faz de tudo para não ser julgada. Não estou falando sobre fazer o que der na telha e não ligar para o que os outros dirão, ou melhor, para as consequências. Só acho que pior do que cometer gafes é perder a capacidade de rir de si mesmo.
Talvez nós realmente tenhamos que contornar a cautela caso queiramos ir ao encontro do vento. Mas o vento é bom. Ele é livre, ele é belo, ele é da natureza e de ninguém mais. Nós também já fomos da natureza. Hoje em dia, quase não somos de nós mesmos.
Devemos nos soltar, devemos conviver, devemos confraternizar, devemos sorrir e dar menos importâncias às coisas. Devemos ativar nosso lado criança de vez em quando e brincar. Afinal, qual é a atividade mais divertida que existe se não esta que é chamada de 'vida'?

E o refrão da música da Alanis (talvez a melhor parte desta canção) é:
"Você vive, você aprende; você ama, você aprende; você chora, você aprende; você perde, você aprende; você se aflige, você aprende; você se sufoca, você aprende; você ri, você aprende; você escolhe, você aprende; você reza, você aprende; você pergunta, você aprende; VOCÊ VIVE, VOCÊ APRENDE."

Para encerrar em grande estilo, Leonardo da Vinci: "Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende."

Mais um pensamento inesperado... (ouvindo "You Learn", Alanis Morissette... pensando bem, acho que ela concordaria com as opiniões emitidas neste humilde texto)

Wednesday, November 01, 2006

Sobre quatro garotos de Liverpool



Estamos no ano de 2006, em pleno século XXI, numa época em que a música não precisa mais tocar no rádio para ser ouvida; é só entrar na internet e baixar aquele cd novinho daquela banda inglesa novinha, cujos integrantes mal saíram da faculdade de música, e depois se deliciar ouvindo o som no computador. E há mais de 40 anos atrás, uma bandinha nova da Inglaterra lançava seu primeiro disco. Essa bandinha recém-saída do forno era formada por 4 garotos de Liverpool, chamados John, Paul, George e Ringo. Esses meninos conquistariam o mundo, mudariam suas vidas pra sempre e seriam capazes de uma evolução musical considerável em pouco tempo. E sua banda acabaria menos de uma década depois do primeiro álbum.
Pois é, essa banda se chamava The Beatles. E numa era em que as bandas mais comentadas da Inglaterra são Arctic Monkeys, The Kooks, Keane enquanto os irmãos Gallagher imitem suas opiniões sobre elas e o roqueiro Pete Doherty (ex-Libertines, atual Babyshambles) se interna em clínicas de desintoxicação, soa estranho uma banda da década de 60 ainda fazer a cabeça de muitas pessoas (eu sou uma dessas pessoas). Ok, pode se pensar: muitas pessoas ainda ouvem Rolling Stones (eu ainda ouço)... mas os Stones ainda estão por aí. Já os Beatles não. Eles lançaram muitos menos discos de estúdio que os Stones. Mas o que há de tão sensacional nos Beatles?
Ainda não sei. Só sei que desde alguns anos atrás, mais específicamente, desde 2001, quando minha mãe me apresentou aos Beatles, através de uma coletânea chamada "1#'s" , me apaixonei à primeira ouvida ao soar o início de "Love Me Do". E alguns anos depois, eles ainda estão no rol das minhas bandas favoritas.

Músicas para todos os momentos. Talvez seja essa uma das coisas mais fascinantes nos Beatles. Você pode dançar com seu avô ao som de "Twist and Shout", sair gritando pela casa cantando "Help, I need somebody!", curtir "With A Little Help From My Friends" na companhia dos seus amigos, viajar na fumaça cósmica imaginária disparada ao se escutar os versos de "Yellow Submarine" ou abraçar seu amor, ouvindo ele falar no seu ouvido "Eight days a week I love you". Mas muitos artistas também tem músicas para vários momentos...
Ter gênios musicais como integrantes. Pois eu acredito que pessoas como Paul McCartney nascem uma a cada milênio. Mas outras bandas tiveram seus gênios também, cada um com seu próprio espírito de genialidade (como Jimmy Page, Lou Reed, ou até mesmo Kurt Cobain)...
Quem sabe, o fato deles começarem a fazer rock nos anos 60 em plena terra da Rainha Vitória seja a grande chave de tudo. Mas Elvis já rebolava na terra do Tio Sam antes disso. E ainda viriam os Sex Pistols para deixar a rainha e toda a corte britânica realmente de cabelos em pé...

Na verdade, eu poderia continuar enumerando aqui possíveis motivos para os Beatles serem tão fascinantes. Mas nenhum deles funcionaria sozinho ou representaria or si só toda a magnitude dessa banda. Os Beatles são fascinantes por toda a sua história, por todos os seus discos (desde os mais pops do início às loucuras movidas à acido de "Sgt.Peppers Lonely Hearts Club Band"), por cada detalhe pertinente e não pertinente. Minha prima uma vez disse uma frase bem interessante pra mim. Eu a reproduzirei aqui de certo modo, fazendo algumas adaptações aos personagens e ao contexto: não há motivo maior para se gostar ou se ouvir The Beatles do que os próprios Beatles!!!!!

My Beatles' Tracklist:
Here, There & Everywhere
Eight Days a Week
Yellow Submarine
Taxman
With a Little Help From My Friends
Eleanor Rigby
We Can Work It Out
Love Me Do
Act Naturally
Something

Outro pensamento inesperado, oriundo de uma conversa despretenciosa... (ouvindo "Here, There & Everywhere", The Beatles, como não poderia deixar de ser)