"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo..."

Saturday, April 28, 2007

Porque Felicidade Repentina é mais "cool"

(Créditos: Getty Images, by Barnamy Hall)

Dia de chuva. Nada pra fazer. Cansada de tanto estudar química e não aprender o suficiente. Impaciente por pensar que ainda tenho que estudar mais essa bendita matéria. Nenhum filme interessante na tv. E eu estou feliz. Feliz assim, do nada. Sem porquê. Mas disse Vinícius que "ninguém está quando quer". Felicidade é assim mesmo. Quando queremos, nunca estamos felizes. Quando estamos, nunca notamos.
E é por conta dessa felicidade repentina que eu estou a ouvir o "Confessions on a Dance-Floor", da Madonna, cantarolando e dançando. Ou será que estou feliz por estar ouvindo Madonna?
Por conta dessa felicidade repentina que eu finalmente consegui escrever alguma coisa. Ou será que foi a também repentina criatividade do dia que me fez estar assim?
Será que é porque não gosto dele? Será que é porque mamãe vem hoje? Será que é porque o Flamengo joga amanhã? Será que é porque comi muito chocolate hoje e ainda vou comer mais? Será que é porque hoje revi uma grande pessoa que há muito não via? Será que é por nada? Ou será que é por tudo?
Não sei. Talvez, por nenhum desses motivos. Talvez, por todos. Hoje, só sei de uma coisa, seu Vinícius de Moraes: felicidade pode ter fim e viver com certeza é melhor do que ser feliz. Mas não há nada nesse mundo melhor que felicidade repentina.

(Ouvindo Madonna. Ops, já falei isso.)

Friday, April 20, 2007

Quando o Fim veio à tona

(Crédito: Getty Images, by David Madison)

Estava ouvindo Spice Girls, uma boa lembrança da infância. Estava meio deprimida comigo. Estava achando que nada no mundo tinha solução. Me prendi numa frase da música 'Wannabe': "friendship never ends". Ironia do destino ou não, a amizade das Spice, se não acabou, deixou de ser como era. A amizade que eu tinha com algumas pessoas acabou. O grupo das Spice Girls acabou. O namoro de uma amiga minha acabou. O meu primeiro ano letivo na Escola Técnica acabou. Tudo isso, em tempos diferentes. Anos diferentes. Momentos diferentes no mundo. Então, parei e comecei a pensar uma coisa: tudo na vida tem um fim. Simples assim. Se há coisas inevitáveis na vida, uma delas é o fim. Mas se o fim é inevitável, por que temos tanta dificuldade em lidar com ele? Por que não nos conformamos e procuramos uma razão de ser para o fim ao invés de achamos que tudo conspira contra porque algo terminou? O ser humano é complicado por natureza. Acha que o fim de uma coisa boa é o prenúncio de que jamais virá outra coisa tão boa. Somos tolos quando pensamos assim. Às vezes, pode não acontecer da mesma maneira. Ou pode acontecer uma coisa melhor. Tudo aqui é feito de mudanças. Sem fim, nada muda. Nada melhora. Nada evolui. Eu arriscaria dizer que o fim é essencial para o equilíbrio da vida humana. Imaginem, se nada tivesse um fim em nossa vida e todas, todas as pessoas do planeta mantivessem as mesmas relações de sempre, com as mesmas pessoas, impossibilitando umas às outras de ampliarem seus horizontes. Seria maçante. Tudo é um ciclo. Estamos em constante transformação. O fim de uma determinada fase, ou de um namoro, ou de uma amizade, é necessário para que o ciclo continue. Os Strokes (bandinha dos Estados Unidos bem boa) que estão certos. Tem uma música deles que diz "the end has no end". Pura verdade. Mais pura do que água de fonte cristalina. No fim, o fim não tem mesmo fim.


(Escrito ao som de Spice Girls. Dedicado à Aimeé. E à mim, que preciso aprender mais do que nunca a conviver com o fim.)

Friday, April 06, 2007

Volta às escuras

(Créditos: Getty Images, by Stephanie Rausser)


Era início de noite na cidade do Rio de Janeiro. Laura e Vinícius estavam na Linha Vermelha, rumo à zona sul da cidade. Saíam do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim, onde Vinícius fora buscar Laura, que retornava de uma temporada na Espanha. Durante os três anos anteriores à viagem, os dois namoraram. Fazia um ano os dois não se viam. Quando Laura comunicou que estava retornando ao Brasil, Vinícius lhe mandou um email perguntando se poderia ir buscá-la no aeroporto. Mesmo não tendo idéia sobre como ficaria o romance dos dois a partir de então, Laura aceitou a proposta. Assim que saiu no saguão de desembarque, ela o avistou. Ela repara que ele não tinha mudado muito. O cabelo castanho-ondulado curto ainda era despenteado, a barba ainda era por fazer e ele ainda calçava um tênis Adidas branco comprado num brechó de Nova York. Quando ele a reparou, sua expressão facial demonstrou surpresa; Laura havia mudado. Os seus cabelos, outrora castanhos na altura do rosto, agora tinham um tom dourado e desciam aos ombros. As argolas que tanto gostava de usar agora eram de plástico, não mais de metal. As botas de couro pretas foram trocadas por botas de camurça lilás. Mas seus olhos azuis-esverdeados continuam os mesmos, concluiu ele no final, após análise geral sobre a viajante que acabara de desembarcar.
Assim que entraram no carro, iniciaram uma conversa breve. Ela perguntou como estavam os pais dele. Ele disse que estavam bem. Depois, Vinícius perguntou como tinha sido a viagem. Laura respondeu que ela tinha dormido durante a maior parte. Por fim, ele disse que ela continuava tão linda quanto antes. Ela agradeceu. E o silêncio invadiu o veículo.
Os dois já estavam há uns cinco minutos na tão temida Linha Vermelha, quando as luzes da estrada se apagaram. Á princípio, os dois temeram internamente que fosse alguma armação criminosa mas depois constataram que provavelmente era algum problema na rede elétrica. O escuro começava a penetrar no carro e o silêncio ainda se fazia presente, quando Vinícius o interrompeu:
_O que aconteceu lá na Espanha?
_Muitas coisas_ disse ela
A interrupção foi definitiva. A partir da resposta de Laura, Vinícius emitiu outra pergunta, e assim os dois iniciaram um diálogo:
_Coisas boas ou coisas ruins?
_Coisas de todos os jeitos.
_Como assim de todos os jeitos?
_De todos os jeitos: coloridas, triangulares, sujas, inodoras, circulares.
_Você visitou muitas exposições de arte em Barcelona?
_Muitas.
_Decidiu-se então, sobre a questão de o maior pintor espanhol ser Salvador Dalí ou Pablo Picasso?
_Não. Mas ainda gosto de ambos.
_Aconteceram coisas eróticas nessa viagem também?
_Sim.
_Com muitos?
_Nem tanto.
_Espanhóis?
_Europeus.
_Não seriam os espanhóis naturalmente europeus?
_Sim, assim como os franceses e os alemães.
_Viajastes para França e Alemanha?
_Só para a França.
_Algum outro país?
_Portugal e Itália.
_Comprou muitas coisas?
_Comprei livros, sapatos, bolsas e revistas de palavras-cruzadas.
_O que trouxe para os seus pais?
_Trouxe dois livros de receita para a minha mãe. E um jogo de xadrez pintado de forma expressionista para o meu pai. E uma camisa oficial do Barcelona para o meu irmão.
_Qual modelo? O verde-fosforecente ou o listrado original?
_O original. Aquele verde-fosforecente é pavoroso.
_Foi assistir a algum jogo?
_Sim, alguns.
_Assistiu Real Madrid x Barcelona?
_Não. Foi em Madrid.
_Comemorou a conquista da Liga dos Campeões?
_Sim.
_De que maneira?
_Bebi até cair.
_Trouxe algo para mim?
_Claro que trouxe.
_O quê?
_Surpresa.
_Você pensava em mim?
_Sim.
_Todos os dias?
_Quase todos.
_O que fazia nos dias em que não pensava em mim?
_Transava com outros.
_Se envolveu de verdade com algum deles?
_Não. Era só sexo e diversão.
_Se sentiu carente alguma vez?
_Muitas vezes.
_Por que só me ligou três vezes?
_Porque a tarifa é muito alta.
_Se você conheceu outros homens, por que não se apaixonou?
_Já sou apaixonada por um.
_Por quem?
_Por você.
_Ainda?
_Sim.
_Acredita se eu disser que também sou apaixonado por você?
_Mesmo que você não me pedisse para acreditar, eu acreditaria.
_Sério?
_Sim.
_Você quer voltar?
_Quero!
_Imaginou que a nossa volta seria às escuras?
_Jamais. Mas acontece.
_Aconteceu na Espanha?
_Não.
_Você me ama?
_Amo. E você, me ama?
_Amo.
E os dois seguiram para a zona sul às escuras, vendo mais as estrelas do que as construções ao redor da estrada, com um silêncio menor que antes, sentindo o coração mais alegre e mais solto que antes.

(texto feito para um trabalho de português. Postado aqui para não perder a viagem.)