"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo..."

Saturday, December 23, 2006

À beira de um impulso, na margem de um rio qualquer, em companhia de Che

Véspera de Natal. Que patético. Quando era criança, me entusiasmava com Natal, com os presentes, com a movimentação de arrumar a árvore mas hoje em dia vejo o Natal apenas como uma data que causa lucro aos comerciantes e incentiva a hipocrisia das pessoas, que fazem o máximo para serem "boazinhas" na data do nascimento de Jesus (?), seja indo à missa, seja fazendo doações às várias campanhas sociais que aparecem nessas épocas.
Mas não estou aqui para falar do dia 24 e sim para refletir sobre outra questão, que volta à tona depois de mais uma sessão de um dos filmes dos irmãos Salles (o Walter): Diários de Motocicleta. Por coincidência, estava estudando a geopolítica da América Latina quando fui ao cinema assistir ao filme. E fui entusiasmada, pois minha professora de geografia da época (que era ótima e da qual eu sinto saudades até hoje) havia comentado sobre o filme em sala de aula e nos recomendado assistir. Entrei na sala de cinema cheia de expectativas e saí emocionada. Não só pelo fato de ser um belo filme, o que emociona a qualquer amante do cinema como eu, mas pelo o que ele representava.
Antes de tudo, não que eu seja uma entusiasta do comunismo, mas sempre simpatizei com a Revolução Cubana, com Fidel, com Guevara. Assim, um filme que conta uma parte da trajetória de Che Guevara, que eu só conheci através dos livros de história, me pareceu bem interessante para descobrir um pouco mais do argentino que mudou a história de uma ilha. Logo que a sessão terminou e os créditos começaram a aparecer, ao som da bela música "Al Otro Lado del Rio", iniciei um processo de reflexão sobre o que havia visto em cena, porque faz parte das minhas expectativas perante o cinema. Não que eu veja poucos filmes, mas vejo filmes selecionados, filmes que julgo serem interessantes ou instigantes, ou ambos, a ponto de não saírem da minha cabeça horas após a última cena. Há algumas películas (como dizem aqueles que falam espanhol) que entram em mim para não saírem nunca mais, me modificando de alguma forma. "Diários" foi uma delas.
Devem ser poucos os que veêm o filme e não são tomados pela vontade de sair mundo afora, ou mais especifícamente, América Latina afora. Hoje revi o filme, e além desta vontade me dominar ainda antes dos créditos finais ao som da voz de Jorge Drexler, ele meio que representou metaforicamente o período de transição no qual acredito estar ou ao menos, aquilo que espero encontrar em 2007. Durante grande parte deste ano tive o desejo de fugir, sair por qualquer lugar, sem companhia especificada, sem bagagem, apenas para mudar de ares e não enlouquecer. Eu não fugi. E estou mais louca do que antes. Sinto que meus sentimentos são os mesmos de Che na época de sua viagem. Me sinto num impulso prestes a acontecer. Estou a ponto de deixar a margem rumo às águas geladas do rio, como Che Guevara fez no Peru. Não sei mais quem eu sou ao certo. Na verdade, não sei quem eu era. E atualmente, só sei o que quero, o que talvez já seja o suficiente. Mas a vontade de explorar mais à mim e à este mundo ao meu redor cresce a cada dia mais, assim como a minha carga de frustração se torna maior. De frustrações, 2007 está cheio: desempenho escolar aquém do esperado, falta de amor, tatuagem adiada por conselhos do próprio tatuador, culpas ainda remoídas, meu quarto ainda mais desarrumado do que eu gostaria.
O próximo ano não será um ano onde resoluções serão cumpridas simplesmente porque resoluções não serão mais pré-programadas como foram este ano. Talvez aconteçam coisas, talvez não. Quero, antes de mais nada, que 2007 seja um ano de encontros, exteriores e especialmente, interiores. E que o dia vença aos poucos o frio, que o meu tudo realmente não esteja de todo perdido e que eu realmente encontre minha própria luz do outro lado de algum rio.

(ao som de "Modern Times", do velho e quase sempre bom Bob Dylan. Enquanto converso via internet com um dos bons amigos feitos este ano. Por essa razão e pelo post combinar um pouquinho com a nossa conversa, é pra ti Marcos.)

Saturday, December 16, 2006

As surpresas


(Créditos imagem: Getty Images, fotógrafo Johner)

A melhor surpresa daquele dia
Foi aquele raio de sol
Que iluminou uma manhã que era azul
E assim acariciou meu rosto com ternura
Ele me guiou até as ondas do mar
Onde eu molhei meus pés e brinquei com a espuma
As gaivotas faziam suas pescas matinais
Enquanto o vento fazia a vegetação costeira balançar de um lado para o outro


A pior surpresa daquele dia
Foi quando você entrou em minha casa
Prometendo aos prantos não voltar nunca mais
Você saiu e o meu choro se misturou ao silêncio que reinava
Eu te odiei por segundos
Enquanto os ponteiros rodavam no relógio
Eu prometi à mim mesma te esquecer
Deixando a dúvida pairar no ambiente

Então você retornou
Voltou para enxugar as minhas lágrimas
Trouxe consigo um buquê de flores frescas
Você esbarrou no interruptor
E acendeu todas as luzes
Eu sorri por um instante
Te amava mais do que nunca
E aquela foi a última grande surpresa do dia

(me sentindo bem, ao som de Mutantes, a nova banda favorita dos últimos tempos de minha vida)

Tuesday, December 12, 2006

Sobre respirar amor mas não amar ninguém

(Créditos Imagem: Getty Images, fotógrafo Neil Beckerman)

"Se todo alguém que ama é para ser correspondido
Se todo alguém que eu amo é como olhar a Lua inacessível
É que eu não amo ninguém
Ninguém...
Não amo ninguém, isso parece incrível
E é só amor que eu respiro"



Como disse Mário Quintana, "amar é mudar a alma da casa". Concordo com este pensamento. Concordo com muitos pensamentos sobre o amor. Acredito que quando se ama as coisas fazem ainda mais sentido. Tenho plena consciência de que o meu amor se assume romântico, carente e corre riscos. Mas onde estás, amor?
Não sei o que está acontecendo. Meu coração anda sozinho, anda com medo, anda espantando todos aqueles que tentam se aproximar dele, e mesmo aqueles que pareciam ter lugar cativo já arrumaram as malas e partiram, aparentemente, sem volta. Nem meus amores platônicos tem feito minha cabeça ultimamente (são eles John Frusciante, Nando Reis, Paulo Vinícius Coelho e Johnny Depp ). Será que é preocupante eu não estar pensando em alguém nas horas erradas em pleno auge da adolescência ou será que estar sem amar, por falta de vontade e de ânimo para tal, é mais normal nessa vida do que eu imagino?
Queria escrever poesias nas folhas de fichário em plena aula de Biologia mas falta inspiração. Queria beijar mais do que tenho beijado mas faltam candidatos à altura (ou quem sabe eu penso que faltam). Queria desenhar corações no quadro negro e ficar compartilhando sorrisos à tôa com as amigas apaixonadas mas falta estado de espírito. Queria que a música 'Socorro', de Arnaldo Antunes não fosse a canção que mais combina comigo no momento, não por desmecê-la mas por conter versos do tipo "alguém me dê um coração que esse já não bate nem apanha/qualquer coisa que se sinta/tem tantos sentimentos deve ter algum que sirva". Tenho medo de meu coração ter fechado para balanço por um tempo. Estou com medo dele ter refletido sobre as paixões que me envolveram e concluído que eu já amei mais alguns amigos do que deveria. Ou que me deixei encantar por um surfista meio tímido mais tempo do que esperava.
Atualmente, até amor não-correspondido vale a pena em troca de sair da rotina segura. Ultimamente só tenho derramado lágrimas por conta de crises existenciais, e mesmo quando estou na solidão do meu quarto de paredes cor-de-abóbora, tenho no lugar de sorrisos suspirantes um silêncio permanente, embalado ao som de bossa nova & rock'n'roll. Só sei que estou sentindo falta de paixão. Só sei que tenho precisado de um você com o qual possa sonhar. Só sei que quero voltar a escutar o meu CD de baladas favoritas. Só sei que, mais do que nunca, estou querendo "mudar a alma da casa".


(consolada pelas vozes de Cássia Eller, que canta os versos que iniciam este post, e Norah Jones, que disserta sobre o amor de uma forma a qual eu gostaria de compartilhar)

Wednesday, December 06, 2006

Um pequeno ensaio sobre o caos e a irritação (sob a visão de um alter-ego)

(Créditos: Getty Images, by Hardink)


"Quem vive sob o caos? Atualmente, todo mundo. O mundo está um caos. Penso às vezes que o mundo sempre foi um grande e intenso caos. Ignorância, hipocrisia, indiferença e egoísmo regem esta sociedade do espetáculo. Guy Debord estava inspirado quando escreveu as teses de seu livro mais famoso. "A Sociedade do Espetáculo" se junta à obras como "As Ondas", "A Insustentável Leveza do Ser", "Memórias de Minhas Putas Tristes", "Fausto", " A Idade da Razão", "Os Miseráveis" e "O Retrato de Dorian Gray" no meu círculo de livros notáveis, que aconselharia toda a população a ler mas é claro que a maioria esmagadora da população nunca se quer ouviu falar em algum desses livros. Pobres ignorantes. E ainda se acham bons. Danem-se eles. Eu conheço estes livros e eu os aprecio da forma correta. Também acho que a literatura fina não é para qualquer um. Deixe a sociedade ocidental continuar lendo livros de auto-ajuda, desde aqueles com fotos de bichinhos e mensagens positivas àqueles escritos por casais que falam sobre relacionamentos. Os livros de auto-ajuda são a escória da literatura. Pensando bem, livros de auto-ajuda nunca foram literatura!
Mas não é sobre isso que quero dissertar. Estava falando do caos. Sim, a sociedade está em caos, seja no Iraque ou na casa dos meus vizinhos, o caos reina soberano. Aliás, olho para a minha própria vida e vejo caos para todo o lado. Os relógios e seus ponteiros irritantes me enlouquecem, as pessoas me irritam, minha família me irrita, todas as coisas tendem a dar errado, eu não consigo mais me apaixonar (acho que na verdade não consigo mais amar, mas me incomoda pensar que eu possa ter me tornado uma sociopata), o tempo insiste em permanecer chuvoso, me obrigando a levar guarda-chuva para todo canto, não consigo ficar alguns minutos em companhia de pessoas normais, no meio da rua, sem me incomodar. E todos esses fatores criam um profundo caos na minha vida, que além de tudo, é sem sentido. E é isso que me dá mais raiva. Queria mudar, queria parar de me incomodar com coisas pequenas e me concentrar plenamente em mim, nos meus objetivos, ajudar as pessoas, ajudar o planeta, mas não consigo. A irritação ocupa meu corpo e minha mente por completo. Estou de saco cheio disso tudo! Queria morrer e nascer de novo numa era mais avançada. Mas se eu me matar, ficarei vagando pelo Cosmos. E minha saúde vai muito bem, ou seja, a morte natural não me fará uma visita nem tão cedo.
Nem sei o que me irrita mais. Se é a metereologia, se é o crescimento populacional, se é a falta de intelectualidade... acho que tudo. Estou até irritada comigo! Estou, aliás, muito irritada comigo!!!! Por isso estou escrevendo. Nem sei se vale a pena. Provavelmente acharei isso patético caso em algum dia do meu futuro, que inclui casamento com algum intelectual francês (porque são mais charmosos, como já pude comprovar), minha própria livraria, e quem sabe um filho ou dois ('terei algum dia estabilidade mental para ter filhos?' soa a pergunta em minha mente).
Enfim, sei que estou cansada de tanto caos, na minha vida e na dos outros. Até que achei isso:

"For want of a nail, the shoe was lost; For want of a shoe, the horse was lost; For want of a horse, the rider was lost; For want of a rider, the battle was lost; For Want of a battle, the kingdom was lost."

Pois é, a Teoria do Caos realmente existe, de maneira popular-filosófica. Ao menos, não precisei inventar uma. Mas já que é assim, eles poderiam inventar uma Teoria da Irritação também. Ou quem sabe, uma Tese sobre a Irritação Provocada no Ser Humano através do Caos. É, acho que isso ficará pra mim mesmo... Preciso de um café. Preciso voltar a fazer terapia. Preciso me encontrar logo com o Frusciante. Preciso fazer alguma coisa, qualquer coisa, antes que eu enlouqueça de vez."

(ao som de "Serve the Servants", "Heart-Shapped Box", "Pennyroyal Tea", "You Know You're Right", "In Bloom" e "The Man Who Sold the World", todas do Nirvana)

*este post é um fragmento de texto.

Monday, December 04, 2006

Manchas pretas e amizades eternas que se foram

(Getty Images, fotógrafo Brandon Harman)

Lembranças. Não podemos viver só delas mas de vez em quando é bom viajar através da mente e de todas as suas memórias maravilhosas. Mas então, me deparo com algumas manchas pretas do meu passado. Manchas que me fazem chorar. Manchas que me fazem gritar. Manchas que me fazem ter nojo, raiva e ódio de mim mesma. Por que tudo teve que ser assim? Não sei. E será que era assim que tinha de ser? Não sei mas prefiro pensar que sim. Afinal, aprendizado é a única coisa que eu posso tirar dos meus próprios erros. Mas mesmo assim é tão difícil. Dizem que superar é pior que perder. Eu comprovei essa teoria com meu corpo, minha alma e minha sanidade mental. Eu aprendi por conta própria que amizades que eram eternas podem um dia acabar. Eu vi que eu jamais precisava fingir ser o que não era para agradar aqueles que me amavam. E que provavelmente não amam mais, apesar de eu ainda os amar e rezar por eles. É penoso não ouvir mais as suas vozes, nem receber seus abraços, nem discutir sobre as nossas opiniões divergentes. É difícil pra mim, que estava acostumada a olhar um horizonte onde o sol nascia no mesmo horário todos os dias, ter que admirar um horizonte onde o sol nem nasce diariamente. É difícil. Agora eu paro no ar das lembranças e choro. Choro compulsivamente. Eu não consigo tocá-las, e até mesmo respirar neste momento é complicado. A vida virou. Deu uma volta completa e caiu num lugar onde tudo parecia ser o mesmo mas não era. Principalmente eu. Nunca mais fui a mesma. Nem jamais serei. E isso é a única coisa que eu tiro de bom. Não consigo ficar um dia sem pensar nas pessoas que me deram amor e foram retribuídas com decepção. Isso me machuca todos os dias e eu simplesmente não sei como fazer isso ir embora. Porque mesmo quando o céu está azul, o meu está cinza. E mesmo que a minhas roupas sejam coloridas, as manchas negras ainda marcam o meu passado. Eu posso até me distrair. Brincar com todas as crianças do mundo e tentar obter um pouco de luz através de suas almas puras, mas é difícil me concentrar. Eu não compreendo porque isso continua me afetando depois de tanto tempo. Eu penso se isso irá me afetar pra sempre. Eu penso se o "pra sempre" realmente sempre acaba. Eu penso se o problema maior ainda está em mim mesma. Eu sinto culpa e arrependimento. Sentimentos que nunca mais deixaram a minha cabeça. Então, eu continuo mergulhando pelo meu particular oceano de lembranças, que cada vez se torna mais escuro. E aqui não é território do Sol. Eu tenho que voltar sozinha sob a escuridão e sob o remorso de meus próprios atos. O tempo não volta. E soa como se grande parte da minha vida tivesse se quebrado no chão de um modo que é impossível reconstruir. Todas as fotografias, todos os planos, todas as músicas, tudo isso foi manchado. Está tudo ali, como se fossem tatuagens invisíveis, que não parecem estar mas jamais se vão. Todo aquele amor se foi também. Um amor que era verdadeiro, de ambas as partes. Um amor que era puro. Um amor que foi vencido pela inexperiência, pelo medo, pela incompreensão, pela mágoa. De uma hora pra outra, o meu mundo se tornou preto. Assim como tudo o que eu fui, tudo o que eu vi e tudo o que eu iria ser. Só me restou o que sou. Mas no momento, me sinto uma desconhecida dentro de meu próprio corpo, olhando para a minha vida. Mas é através de mim que terei de encontrar todas as forças e reuni-las em busca da luz interior, pela qual a minha alma tanto anseia. Eu não sei como fazer isso então eu peço, em todas as minhas orações, para que vocês tenham belas vidas. Para que vocês sejam a estrela particular do céu de um alguém. Para que vocês um dia me perdoem por ter lhes magoado tanto. Para que vocês acreditem que tudo o que escrevi aqui é sincero e vêm de dentro do meu coração. E para que assim, vocês tornem a minha vida um pouco mais clara novamente. Porque, como é do conhecimento de vocês, o preto nunca foi minha cor preferida.

*texto escrito em julho ou agosto deste ano, não tenho certeza, e postado aqui por 2 razões: 1) eu precisava assumir isso pra mim mesma; 2) algumas pessoas precisam lê-lo.

Sunday, December 03, 2006

1o de Dezembro

(Créditos: Getty Images, by CSA Plastock)

Um dia pode começar ainda cedo, às 6h e alguma coisa da manhã, após poucas horas de sono. Neles, há sempre uma boa companhia, sejam estas amigas, amores ou a si próprio. Um banho morno para acordar de vez e nos preparar para o dia que se começa. Um café-da-manhã regado à risos, café com pouco açúcar e tarefas para serem feitas logo depois. Um atraso ou outro, um caminho diferente do rotineiro, comentários de desconhecidos, um destino intermediário. Minutos depois, esperas, conversas, pequenos sustos e alguns encontros inusitados. Enfim, o destino final.
A chuva que não sabe se vai ou se fica. O nervosismo que é substituído por um momento de suspiro. Massagens sendo feitas e recebidas. Um pequeno momento de tensão. Um resultado não muito satisfatório porém suficiente. Novos penteados. O aniversário de um amigo. Bolo confeitado, docinhos na forminha, chapéuzinho com personagem Disney na cabeça, refrigerante sobre a mesa, velas acesas, balões cor-de-rosa espalhados pela sala. A surpresa. O momento após dela. Sorrisos encabulados de felicidade. "Parabéns pra você". Piadinhas. Fotos. Penetras. No final, tudo corre bem.
Então, chega uma despedida. Mais um professor, dos tantos que passaram por nossas vidas, se vai. Um professor que ensinou um pouco de análise sintática, interpretação de texto, pronomes, verbos, barroco e arcadismo. Cartazes de despedida. Mais fotos. Mais risos. Algumas lágrimas. Promessas feitas, pedidos emitidos. Mais um momento que chega ao fim.
Uma conversa à beira da estrada, com uma chuva bem fina caindo. Conversa de amiga, sem pretensão nem seriedade, onde sobram risos, descobertas e comentários. Um telefonema. Uma volta. Um tempo que é perdido subindo e descendo escadas. Mais confidências. Alguns desabafos. Um desafio daqueles envolvendo um simples colar de contas rosa-bebê. Uma roda que se forma ao redor de uma bola. Toques e manchetes. Depois, chutes, defesas e travessões. Sempre regados à risos.
Então, aparecem os números. Conhecimento novo, ensinado por quem sabe muita coisa. Nova técnica dominada. Alguma prática. Um momento de descanso. Chocolates e papos com amigos mais velhos e mais loucos.
Conversas sérias, envolvendo o amor de uns e outros. De amigo para amigo. Uns choram. Outros são elogiados. Há ainda uma que não sabe o que fazer. Fatos que ficam no ar. Um futuro talvez já determinado por vir. Amizade do jeito que deve ser, em primeiro lugar.
Uma outra sala, uma outra aula, mais aprendizado. Slides, fotos, textos, auditório e pessoas, umas mais atentas, outras nem tanto. Palavras são ditas sobre um ator russo e seu sistema domina por instantes a imaginação e o pensamento. Palmas. Um outro mestre, desta vez polônes, tem suas idéias expostas, talvez de forma não tão esclarecedora mas provocante a ponto de fazer a curiosidade vir à tona. Perguntas, dúvidas e hipóteses em volta do "Teatro Pobre". (Um momento de interrupção: uma notícia um pouco estranha foi emitida. Um telefonema que tranquiliza de certo modo. Ok, vamos voltar de onde paramos). Mais palmas. Despedidas, beijinhos, abraços.
Uma outra conversa despretenciosa tem início quando uma ligação a interrompe. Desta vez, a notícia é séria e definitiva. Um pouco de choque, um pouco de pânico, um pouco de clareza. Um momento rápido de avisos e a entrega total àquilo que não se sabe o que esperar. Nervosismo. Cheiro de cigarro e chocolate. Pessoas mais velhas. Uma espera que parece sem fim. Um veículo. Algumas informações novas. Alguma irritação. A chegada.
Muita gente. Muitos carros. Uma noite bela, com Lua e estrelas. Rachaduras. Uma ponte que pode cair. Um sinal da cruz. Uma travessia nervosa. Ao redor, pessoas de mala, policiais e um encontro de rio com o mar. Outro sinal da cruz, acompanhado de um suspiro. Mais um telefonema. Fileiras de ônibus. Pessoas loucas para chegarem em suas casas. Um veículo. Um trajeto de cinco minutos. Uma conversa que tranquiliza e gera alguns risos. A porta de casa. A sala de casa. A TV ligada, um jogo de vôlei. Conversas nervosas de falas rápidas, mas já com serenidade. A adrenalina que corre a toda no sangue. Notícias do mundo. Um presidente que é eleito, uma economia que cresce, um Papa deixando um país, conflitos que não terminam, uma reportagem especial sobre o Dia Mundial de Combate à Aids, por acaso aquele dia... então, o sono aparece. E o dia chega ao fim.
Há dias cujas 24 horas rendem mais aprendizado que um mês inteiro e suas 720 horas. Há dias que provocam risadas e lágrimas, angústias e fofocas, reflexões e discussões, aniversários e despedidas. Há dias que se tornam memoráveis por um fato. Há outros que se tornam inesquecíveis pelo todo. Há pouco tempo, vivi um dia assim. E este dia foi 1o de Dezembro.


(texto escrito ao som de Ella Fitzgerald e dedicado à todas as pessoas que participaram do meu 1o de Dezembro.)