"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo..."

Sunday, December 03, 2006

1o de Dezembro

(Créditos: Getty Images, by CSA Plastock)

Um dia pode começar ainda cedo, às 6h e alguma coisa da manhã, após poucas horas de sono. Neles, há sempre uma boa companhia, sejam estas amigas, amores ou a si próprio. Um banho morno para acordar de vez e nos preparar para o dia que se começa. Um café-da-manhã regado à risos, café com pouco açúcar e tarefas para serem feitas logo depois. Um atraso ou outro, um caminho diferente do rotineiro, comentários de desconhecidos, um destino intermediário. Minutos depois, esperas, conversas, pequenos sustos e alguns encontros inusitados. Enfim, o destino final.
A chuva que não sabe se vai ou se fica. O nervosismo que é substituído por um momento de suspiro. Massagens sendo feitas e recebidas. Um pequeno momento de tensão. Um resultado não muito satisfatório porém suficiente. Novos penteados. O aniversário de um amigo. Bolo confeitado, docinhos na forminha, chapéuzinho com personagem Disney na cabeça, refrigerante sobre a mesa, velas acesas, balões cor-de-rosa espalhados pela sala. A surpresa. O momento após dela. Sorrisos encabulados de felicidade. "Parabéns pra você". Piadinhas. Fotos. Penetras. No final, tudo corre bem.
Então, chega uma despedida. Mais um professor, dos tantos que passaram por nossas vidas, se vai. Um professor que ensinou um pouco de análise sintática, interpretação de texto, pronomes, verbos, barroco e arcadismo. Cartazes de despedida. Mais fotos. Mais risos. Algumas lágrimas. Promessas feitas, pedidos emitidos. Mais um momento que chega ao fim.
Uma conversa à beira da estrada, com uma chuva bem fina caindo. Conversa de amiga, sem pretensão nem seriedade, onde sobram risos, descobertas e comentários. Um telefonema. Uma volta. Um tempo que é perdido subindo e descendo escadas. Mais confidências. Alguns desabafos. Um desafio daqueles envolvendo um simples colar de contas rosa-bebê. Uma roda que se forma ao redor de uma bola. Toques e manchetes. Depois, chutes, defesas e travessões. Sempre regados à risos.
Então, aparecem os números. Conhecimento novo, ensinado por quem sabe muita coisa. Nova técnica dominada. Alguma prática. Um momento de descanso. Chocolates e papos com amigos mais velhos e mais loucos.
Conversas sérias, envolvendo o amor de uns e outros. De amigo para amigo. Uns choram. Outros são elogiados. Há ainda uma que não sabe o que fazer. Fatos que ficam no ar. Um futuro talvez já determinado por vir. Amizade do jeito que deve ser, em primeiro lugar.
Uma outra sala, uma outra aula, mais aprendizado. Slides, fotos, textos, auditório e pessoas, umas mais atentas, outras nem tanto. Palavras são ditas sobre um ator russo e seu sistema domina por instantes a imaginação e o pensamento. Palmas. Um outro mestre, desta vez polônes, tem suas idéias expostas, talvez de forma não tão esclarecedora mas provocante a ponto de fazer a curiosidade vir à tona. Perguntas, dúvidas e hipóteses em volta do "Teatro Pobre". (Um momento de interrupção: uma notícia um pouco estranha foi emitida. Um telefonema que tranquiliza de certo modo. Ok, vamos voltar de onde paramos). Mais palmas. Despedidas, beijinhos, abraços.
Uma outra conversa despretenciosa tem início quando uma ligação a interrompe. Desta vez, a notícia é séria e definitiva. Um pouco de choque, um pouco de pânico, um pouco de clareza. Um momento rápido de avisos e a entrega total àquilo que não se sabe o que esperar. Nervosismo. Cheiro de cigarro e chocolate. Pessoas mais velhas. Uma espera que parece sem fim. Um veículo. Algumas informações novas. Alguma irritação. A chegada.
Muita gente. Muitos carros. Uma noite bela, com Lua e estrelas. Rachaduras. Uma ponte que pode cair. Um sinal da cruz. Uma travessia nervosa. Ao redor, pessoas de mala, policiais e um encontro de rio com o mar. Outro sinal da cruz, acompanhado de um suspiro. Mais um telefonema. Fileiras de ônibus. Pessoas loucas para chegarem em suas casas. Um veículo. Um trajeto de cinco minutos. Uma conversa que tranquiliza e gera alguns risos. A porta de casa. A sala de casa. A TV ligada, um jogo de vôlei. Conversas nervosas de falas rápidas, mas já com serenidade. A adrenalina que corre a toda no sangue. Notícias do mundo. Um presidente que é eleito, uma economia que cresce, um Papa deixando um país, conflitos que não terminam, uma reportagem especial sobre o Dia Mundial de Combate à Aids, por acaso aquele dia... então, o sono aparece. E o dia chega ao fim.
Há dias cujas 24 horas rendem mais aprendizado que um mês inteiro e suas 720 horas. Há dias que provocam risadas e lágrimas, angústias e fofocas, reflexões e discussões, aniversários e despedidas. Há dias que se tornam memoráveis por um fato. Há outros que se tornam inesquecíveis pelo todo. Há pouco tempo, vivi um dia assim. E este dia foi 1o de Dezembro.


(texto escrito ao som de Ella Fitzgerald e dedicado à todas as pessoas que participaram do meu 1o de Dezembro.)

1 Comments:

  • At 3:44 PM, Anonymous Anonymous said…

    Lindo.
    Ainda bem q eu fiz parte desse dia.
    ótimo texto.

     

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