"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo..."

Thursday, April 10, 2008

Todos os Devaneios de uma Garota


Era uma tarde cheia de peculiaridades. As águs de Março mostravam-se mais reais e menos metafóricas do que aquelas outrora descritas por Antônio Carlos Jobim. Uma epidemia tropical assustava a população e preocupava os políticos naquele que era um ano eleitoral. Em Londres, a Seleção Brasileira revivia as memórias do passado ao enfrentar um tradicional rival de Copas do Mundo. A Lua estava em Escorpião. levando uma intensidade misteriosa à percepção das pessoas.
Ela estava no terraço de um dos prédios mais altos daquela pequena cidade. Lá em cima via-se toda a orla marítima, os carros parados por conta do sinal vermelho e as pessoas andando apressadas. Ele tinha marcado com ela ali, mas ainda faltavam 15 minutos para o horário que tinham combinado. Chegou cedo, como era de seu costume. Usava aquela saia de que tanto gostava comprada em um brechó da Bélgica e estreiava blusa e par de brincos negros. Não gostava de usar preto durante o dia, mas escolhera aquela roupa sem analisar muito.
Daqui a pouco ele estaria ali. Se quatro semanas atrás lhe dissessem que teria um encontro marcado com ele não acreditaria. São esses rumos inesperados que a vida toma que dão graça à todas as coisas. Se bem que ele não era o primeiro, nem o segundo surfista com quem se envolvia naquele primeiro trimestre do ano. O que os adoradores de ondas têm que a deixam tão fascinada? Pode ser o jeito tranquilo de levar a vida, os planos futuros mirabolantes que sempre terminam em alguma praia do Hawaii, o bom gosto para música ou o charme natural inerente deles. Na verdade, eram todos esses fatores conjuntos que volta e meia faziam um domador de ondas cruzar seu caminho. Ele tinha tudo isso e algo mais que ela não era capaz de descrever. Já faziam alguns dias desde que tinham se beijado pela primeira vez e ela ainda estava impressionada com o magnetismo físico que tiveram. Ele tinha um poder estranho sobre seu corpo, como se os dois já tivessem vivido algo parecido em uma vida passada. Quem sabe. Ele ainda não mexera com seus sentimentos românticos mas tinha deixado seus cinco sentidos em estado de curto circuito. O beijo dele era diferente, o toque dele era diferente, o sussuro dele era diferente... ele sabia exatamente o que fazer e escolhia sempre o momento certo para tal, fosse para beijr sua barriga ou lhe fazer um elogio encantadoramente doce. E esse menino nem tinha idade o suficiente que lhe permitisse dirigir legalmente.
Então, o telefone dela tocou. Ela atendeu e ouviu a voz marcante dele perguntar: "onde você está?" Ela se retirou da mesa aonde estava e foi ao encontro dele. Ele tocou de leve os seus lábios e foi comprar os ingressos para o filme ao qual os dois não queriam assistir realmente. É inevitável quando se vai ao cinema acompanhado cheio de outras intenções que não prestar atenção na trama do filme. Eles entraram na sala e sentaram-se isolados dos outros. Ele tocou em seu rosto e lhe beijou calorosamente ao mesmo tempo em que as luzes se apagaram. Era o sinal de que aquele era o momento certo para deixar de pensar e simplesmente sentir.
(coisas que acontecem na vida...)

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