"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo..."

Wednesday, January 02, 2008

Entre Dunas e Garrafas de Cerveja...

(O Pôr-Do-Sol que nõs vão vimos porque estávamos ambos com muita preguiça de subir)


...eu lhe vi. Você estava ali, distraído. Depois descobriria que a distração é sua característica mais marcante, e que, aliada a sua timidez, se torna a face mais encantadora de toda a sua personalidade. Você usava uma camisa do Botafogo. Mas como pode isso? Você não é gringo? Você deveria usar uma camiseta do Bayern de Munique, do Borussia Dortmund, do Werder Bremen, ou melhor, do Colônia! Mas lá estava você usando uma camisa de um time rival ao meu. Se eu não viesse a te conhecer tão bem, apostaria que era só obra do destino para me provocar, mas logo percebi que era apenas uma coincidência mal-planejada. Então, veio a parte mais engraçada: surfista? Como assim, surfista? Ele não mora às margens do rio Reno? Sim, você mora às margens do rio Reno e quer que inventem alguma máquina que faça ondas gigantes no doce Reno para que você não precise ir até o litoral holandês ou tenha de pegar um avião para sentir a natureza em sua forma mais rústica. E o seu jeitinho me conquistou instantaneamente. Os seus óculos escuros de aro marfim. O despenteado do seu cabelo. O tom vermelho-rosado que a sua pele assumiu. Mas eu precisava de mais de você. Eu não me contento só com um bom papo. Eu preciso de confissões, de segredos compartilhados, de risadas inventadas e viagens programadas. E claro, de intimidade singular. E eu tive tudo isso contigo. E quero que você saiba: nem sempre eu fui essa menina que você chamou de segura. Eu sei o que é insegurança e sei tão bem que ouvir as suas paranóias e os seus pequenos complexos de gente que não é mais criança, nem é adulto ainda (emitidas com um pequeno sotaque germânico) me tocaram tão profundamente que, por um momento, pensei que fosse cair em lágrimas. Ali estávamos nós sendo afetados pela parte mais difícil do nosso maravilhoso signo. Eu com todas as lembranças em mente e você achando que era o único a se sentir assim. Mas se eu me afetasse demais pelas coisas trazidas de volta e começasse a chorar, você não saberia o que fazer e eu precisava lhe ajudar. Então, eu fiz o que sei de melhor. Te relaxei com minhas mãos de fada, como diria a Gigi, e deixei você falar bem de Freud e mal das temperaturas negativas. E acho que até te fiz esquecer temporariamente o seu trabalho sobre aquele livro que você diz ser chatíssimo. Eu queria mais de você e você me interrompeu num instante no qual nenhum outro menino ousaria sequer emitir uma respiração afobada demais. E no fundo, você sempre esteve com a razão. O que são 60 minutos de intensidade corporal quando se pode ter mais de 50 anos de boas histórias? Nada. Aos poucos, minha memória apagaria isso e a sua também, e toda a magia se perderia no ar. Mas agora, nós temos a memória em branco, pronta para ser colorida por momentos cheios de brasilianidade germânica. Aliás, ela já está sendo colorida aos pouquinhos porque você riu de mim quando o meu salto ficou preso. E eu ri de você porque você não sabia falar 'Arabian' da maneira correta. E eu acabei bebendo cerveja contigo. E lhe contei dos meus amantes. E nós ainda arrumamos tempo para sermos avaliadores de pizzarias locais e conselheiros sentimentais de pré-adolescentes um tanto envolvidos por seus hormônios inquietos. E sabe qual será a imagem que vou gravar de ti? Nós dois deitados sob o Sol, ouvindo o barulho das folhas dos coqueiros, conversando sobre o que vinha à mente e dava vontade de falar. Só sei que aprendi contigo mais do que meia dúzia de palavras em alemão. Acho que, no final desse ano que inicia agora, eu verei que você foi a personificação do que o Cosmos deseja para mim nos próximos 363 dias: tranquilidade, serenidade, e se possível, algum amante perdido. Sei que te adorei. E sei que você me deve uma cerveja. Ah, Immanuel Kant nasceu na Prússia, em Kaliningrado. Tudo bem, não é Alemanha. Mas tampouco é França! Acho que alguém me deve duas cervejas...





(ouvindo 'Other Side of the World', KT Tunstall. E o ano começou melhor do que o imaginado... Ah, claro, todas essas palavras são para você.)