"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo..."

Saturday, June 23, 2007

Ele Me Pediu Para Escrever

(Créditos Imagem: Getty Images, by Henri Horestein)


Ele não me pediu pra ligar. Me pediu para escrever. Assim, sem mais nem menos. Estava enciumado porque eu tinha me declarado à outro. Tolice típica dos homens. Mas ele me fez o pedido. Não queria a minha mão para casar, e sim para tecer linhas de palavras endereçadas à ele. Então, lhe digo que me tentas. Nas horas mais inapropriadas. Sua praticidade me incomoda. O seu modo de falar as coisas certas me deixa desnorteada. Você consegue como ninguém levantar o meu astral quando eu mesma já desisti de tentar. Te confirmo outra coisa: não te quero assim, tão comumente. Não quero te ter como propriedade. Nem quero me apaixonar. Só te quero na minha cama daqui há alguns anos. Portanto, não pense que as outras ao seu redor irão me incomodar. Pois eu sei, e você sabe, que o que rola entre nós é nosso, e só nosso, e só a gente poderia agir assim. Porque ninguém é tão louco e tão escravo do desejo que emana de nossas entranhas quanto nós dois. Continue a perguntar sobre as minhas lástimas. Venha chorar comigo caso necessite. Não me deixe exagerar na bebida numa noite dessas que parecem não ter fim. Jamais me pergunte se eu quero companhia. Apenas chegue e sente-se ao meu lado. Não quero fazer você se encantar. Não quero lhe causar dor. Se você um dia não souber um porquê qualquer sobre alguma questão astrológica ou humanista, me procure e eu tentarei lhe responder. Respeite a minha instabilidade. E saiba enaltecer todas as minhas qualidades. Quem sabe, estaremos os dois um dia, no Maracanã, a assistir o maior dos Clássicos. Eu não gosto de viver o tempo do jeito que ele é. Eu gosto de momentos reutilizáveis, em época de aquecimento global. Eu estou apenas curtindo as coisas conforme elas me aparecem. Quero lhe dar de presente um pedaço da minha mente excêntricamente psicodélica. Às vezes, tenho vontade de te perguntar: 'quem você pensa que é?' Porque você sabe ser de vários jeitos de uma única maneira. E ao mesmo tempo em que gosto, eu abomino isso. Talvez você se torne famoso um dia. Só espero que lembre de mim, como aquela que foi insana o suficiente para lhe dizer explicitamente como eu queria fazer você sentir. Enfim, só estou tentando ser fiel à minha própria vontade. E não se esqueça que ainda temos muitas horas pela frente até tornarmos os sussuros parte da realidade.

Ele me pediu pra escrever. E eu, sem querer, escrevi.


(ouvindo Mary J. Blige cantar para o Jay-Z)



Tuesday, June 12, 2007

Você lá, eu aqui e o mundo ao nosso redor

(Créditos Imagem: Getty Images, by Toby Adamson)


Já passou do meio-dia e o sol voltou a brilhar. Assim como o tempo vai passando, meus pensamentos borbulham. Voltei a listar todas as coisas que quero ser. Isto se tornou uma prática terapêutica ultimamente. Passar horas sonhando (e simplesmente sonhando) com todos os meus objetivos é bem divertido. E eu também voltei a acreditar em algumas coisas. Mas não acredito mais em tudo o que vejo. Estou cega e impaciente demais para enxergar verdade nos relacionamentos amorosos que acontecem ao meu redor.


Por que você não passa por aqui de novo e me leva embora? Eu não minto mais. E estou me aprofundando mais em certos assuntos. Os dias estão ficando mais loucos que de costume, e eu permaneço enlouquecendo conforme o tempo passa. Mesmo assim, tenho encontrado motivos para sorrir. E acho realmente que eu poderia tornar os seus dias mais alegres.


Eu sei que você está realmente preocupado com as questões do planeta, mas me permita estar preocupada com os rumos que a sua vida está tomando. Não tenho ouvido seus passos... parece que eles não produzem mais sons. E isso é triste para mim, que sempre gostei tanto da sua música. Aonde você pensa em nadar senão nos mares azuis das cidades vizinhas a que eu moro? Não me importo se você estiver perdido em um mar platino qualquer, sem saber como voltar. Você terá a minha ajuda para achar a terra firme.


Por que eu não saio daqui e vou bater na sua porta? Eu sou livre em pensamento. E estou melhorando o meu espanhol. Os dias tem caído na normalidade mais do que eu gostaria e eu estou rodeada de gente comum que não sabe ousar nem na sua maneira de andar por suas próprias vidas. Mesmo assim, as noites frias foram embora. Mas eu acho realmente que toparia ir até o frio senti-lo com você.


Estamos em algum lugar deste mundo. Eu aqui, você lá. Unidos pela curiosidade das histórias que contamos um ao outro. É incrível a sua capacidade de melhorar o meu dia com apenas uma palavra. O mundo está ao nosso redor. Precisamos diminuir a fronteira entre nossos corpos. Quem sabe você consiga melhorar ao meu dia com apenas um beijo. E aí as coisas ficarão realmente bem.

Thursday, June 07, 2007

Um (futuro) voô particular

(Créditos Imagem: Getty Images, by Muriel de Seze)


Nunca sei nada quando preciso saber. Nunca sei como explicar o ciclo das abelhas sem complicar muito. Nunca sei dos meus sentimentos, apesar de saber dos sentimentos dos outros. Continuo achando que a física é demais para a minha capacidade de compreensão. E continuo achando que sei mais de história do rock'n'roll e filosofia que meus amigos. Acho que não quero saber certas coisas. Como por exemplo, distinguir os tipos de orquídeas que existem. Ultimamente, acho que não quero mais saber de nada. E só ando com vontade de aprender uma coisa. De aprender a voar.


De tempos pra cá, a dor da minha existência mudou. Não existiam tantas razões para o sofrimento se não a razão suprema do tédio. E o tédio virou dor. O frio chegou antes da hora e observar a chuva da janela do quarto, numa manhã que era supostamente ensolarada, me causou uma dor que atingiu os ossos. Me deixou fraca. Sem vontade de comer. Sem curiosidade pra viver.


Não me importa o que acontece no mundo. Mentira. Mas queria que fosse assim. Queria apenas sentir o desejo de voar. Queria apenas correr o risco de viver sem me preocupar com o fim inesperado. Queria não sentir falta de ar em algumas noites. Queria voltar a acreditar. Queria encontrar alguém que fosse como eu. Que visse as coisas desse meu jeito particular. Que aceitasse o desafio de ser mais feliz que as outras pessoas. E que acreditasse, ao menos por um segundo, que nós poderíamos viver para sempre. Mesmo que o sempre fosse um único instante ou uma única hora perdida do dia.


Talvez eu nunca me torne todas as coisas que gostaria de ser. Talvez eu não venha a conhecer todos os lugares onde gostaria de ir. Talvez eu não ame tantas vezes quanto sonho amar. Mas nada disso é motivo para chorar. E eu devo entender que o tédio não é sinônimo de momentos de tristeza. O tédio é sinônimo de momentos de liberdade consigo próprio. E por mais que eu agora ache que ninguém é tão igual a ponto de ser unanimidade perante o mundo, nem ninguém é tão diferente a ponto de ser excluído da sociedade. Talvez eu encontre alguém que veja as coisas do mundo a partir das cores que os meus olhos determinam. Um alguém que acredite que é possível viver para sempre, quando o sempre não significa eternidade, e sim continuidade. Quem sabe este alguém venha me dizer que nós somos imortais em nossa história. Quem sabe ainda, este alguém possa mudar a minha vida em meros 15 minutos.


E num dia qualquer como hoje, eu saírei voando. Seja de avião, de balão ou com uma armação pendurada nas costas imitando asas de borboleta. Porque eu não quero aprender a voar pelo simples prazer de "andar" pelo céu. Voar é conquistar liberdade de ser e estar em qualquer lugar. E todos aqueles que voam por aí, são livres. Seres livres, pensantes e dotados de disciplina, que inclusive se deixam acreditar que é possível viver para sempre.


E quem dirá o contrário?