"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo..."

Thursday, June 07, 2007

Um (futuro) voô particular

(Créditos Imagem: Getty Images, by Muriel de Seze)


Nunca sei nada quando preciso saber. Nunca sei como explicar o ciclo das abelhas sem complicar muito. Nunca sei dos meus sentimentos, apesar de saber dos sentimentos dos outros. Continuo achando que a física é demais para a minha capacidade de compreensão. E continuo achando que sei mais de história do rock'n'roll e filosofia que meus amigos. Acho que não quero saber certas coisas. Como por exemplo, distinguir os tipos de orquídeas que existem. Ultimamente, acho que não quero mais saber de nada. E só ando com vontade de aprender uma coisa. De aprender a voar.


De tempos pra cá, a dor da minha existência mudou. Não existiam tantas razões para o sofrimento se não a razão suprema do tédio. E o tédio virou dor. O frio chegou antes da hora e observar a chuva da janela do quarto, numa manhã que era supostamente ensolarada, me causou uma dor que atingiu os ossos. Me deixou fraca. Sem vontade de comer. Sem curiosidade pra viver.


Não me importa o que acontece no mundo. Mentira. Mas queria que fosse assim. Queria apenas sentir o desejo de voar. Queria apenas correr o risco de viver sem me preocupar com o fim inesperado. Queria não sentir falta de ar em algumas noites. Queria voltar a acreditar. Queria encontrar alguém que fosse como eu. Que visse as coisas desse meu jeito particular. Que aceitasse o desafio de ser mais feliz que as outras pessoas. E que acreditasse, ao menos por um segundo, que nós poderíamos viver para sempre. Mesmo que o sempre fosse um único instante ou uma única hora perdida do dia.


Talvez eu nunca me torne todas as coisas que gostaria de ser. Talvez eu não venha a conhecer todos os lugares onde gostaria de ir. Talvez eu não ame tantas vezes quanto sonho amar. Mas nada disso é motivo para chorar. E eu devo entender que o tédio não é sinônimo de momentos de tristeza. O tédio é sinônimo de momentos de liberdade consigo próprio. E por mais que eu agora ache que ninguém é tão igual a ponto de ser unanimidade perante o mundo, nem ninguém é tão diferente a ponto de ser excluído da sociedade. Talvez eu encontre alguém que veja as coisas do mundo a partir das cores que os meus olhos determinam. Um alguém que acredite que é possível viver para sempre, quando o sempre não significa eternidade, e sim continuidade. Quem sabe este alguém venha me dizer que nós somos imortais em nossa história. Quem sabe ainda, este alguém possa mudar a minha vida em meros 15 minutos.


E num dia qualquer como hoje, eu saírei voando. Seja de avião, de balão ou com uma armação pendurada nas costas imitando asas de borboleta. Porque eu não quero aprender a voar pelo simples prazer de "andar" pelo céu. Voar é conquistar liberdade de ser e estar em qualquer lugar. E todos aqueles que voam por aí, são livres. Seres livres, pensantes e dotados de disciplina, que inclusive se deixam acreditar que é possível viver para sempre.


E quem dirá o contrário?

2 Comments:

  • At 1:38 PM, Anonymous Anonymous said…

    Talvez eu encontre alguém que veja as coisas do mundo a partir das cores que os meus olhos determinam. Um alguém que acredite que é possível viver para sempre, quando o sempre não significa eternidade, e sim continuidade.

    Pq eu amei essa parte...


    Escrevendo maravilhosamente como sempre Anna...

    E post mais!

    Beijos..

     
  • At 3:38 PM, Blogger Sylvia de Sá said…

    Maravilhoso, Anna!

    E como eu precisava ler esse texto!
    Muito bom!

    Um beijo grande... e vamor voar por aí...

     

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