Estado de Inércia Natural
(Créditos Imagem: Getty Images, by Annie Collinge)
Se eu acordo cedo, pouco muda. Se eu acordo tarde, o mundo continua. Mas que mundo continua se esse mundo nem existe realmente? Para quê eu acordo afinal? Isto não está em minhas mãos. Já devia ter me conformado com esta situação. O que me incomoda mais aqui: a falta de autonomia ou a falta de realidade? Nem consigo vê-las como consequência uma da outra. Na minha vida (ou qualquer interação imaginária entre moléculas imaginárias, que seja) isso seria de qualquer ângulo a causa, não a consequência. Como fomos chegar à esse estado inexistente tanto no sentido figurado quanto no literal? Quando foi que acenderam a luz do quarto? Quando foi que nos tiraram a visão de infravermelho? Não compreendo mais nada desde sempre. Será que esse estado era o atingido por eles antes? Será que foi pensando em algo assim que aquele escritor que jamais existiu inventou aquela história onde o personagem depois de morto narrava suas próprias memórias? Nem posso me recordar qual era seu nome inventado porque minha memória nunca existiu. Mas não pode ter sido isso pois eu acho que ainda não morri. Na verdade, temo ainda nem ter nascido. Que estado de transição mais longo esse então! Só posso pensar então que, se isso ainda não me matou, não deve ser de todo ruim. Talvez isso me deixe mais forte. Eu precisava de alguém com quem conversar agora. Devo preencher o agora fazendo algo de bom pra mim pois minha lista de afazeres para os outros já está cheia desde ontem Quando foi ontem? Não posso pensar sobre o ontem nem tenho tempo para esperar pelo amanhã. Por que ainda não me acostumei a eliminar essas expressões temporais? Já é sabido de todos que o tempo é um só, imutável. Ele é mais do que uma hora, mais que duas horas, mais que três horas, mais do que o nunca. Eu só sei que precisava estar aqui. E de qualquer forma, eu não posso pensar mais sobre essas questões porque meu pensamento já se esgotou enquanto novos dilemas existenciais não param de surgir. Eles surgiram no momento anterior à esse, e surgirão no momento posterior à esse. Mas ninguém ainda pensou em extinguir o trabalho. Ah se aquele homem que inventou as teorias trabalhistas e concluiu que este sistema era uma porcaria pudesse voltar. Ou até ele terá sido uma breve ilusão intelectual? Só sei que é noite porque eles já acionaram o apito geral. E desde a sirene do apito que eu estou aqui. Esperando que eles me acordem. Enquanto isso, sigo no meu estado de inércia natural.
(ouvir Daft Punk em demasia causa isso.)
Se eu acordo cedo, pouco muda. Se eu acordo tarde, o mundo continua. Mas que mundo continua se esse mundo nem existe realmente? Para quê eu acordo afinal? Isto não está em minhas mãos. Já devia ter me conformado com esta situação. O que me incomoda mais aqui: a falta de autonomia ou a falta de realidade? Nem consigo vê-las como consequência uma da outra. Na minha vida (ou qualquer interação imaginária entre moléculas imaginárias, que seja) isso seria de qualquer ângulo a causa, não a consequência. Como fomos chegar à esse estado inexistente tanto no sentido figurado quanto no literal? Quando foi que acenderam a luz do quarto? Quando foi que nos tiraram a visão de infravermelho? Não compreendo mais nada desde sempre. Será que esse estado era o atingido por eles antes? Será que foi pensando em algo assim que aquele escritor que jamais existiu inventou aquela história onde o personagem depois de morto narrava suas próprias memórias? Nem posso me recordar qual era seu nome inventado porque minha memória nunca existiu. Mas não pode ter sido isso pois eu acho que ainda não morri. Na verdade, temo ainda nem ter nascido. Que estado de transição mais longo esse então! Só posso pensar então que, se isso ainda não me matou, não deve ser de todo ruim. Talvez isso me deixe mais forte. Eu precisava de alguém com quem conversar agora. Devo preencher o agora fazendo algo de bom pra mim pois minha lista de afazeres para os outros já está cheia desde ontem Quando foi ontem? Não posso pensar sobre o ontem nem tenho tempo para esperar pelo amanhã. Por que ainda não me acostumei a eliminar essas expressões temporais? Já é sabido de todos que o tempo é um só, imutável. Ele é mais do que uma hora, mais que duas horas, mais que três horas, mais do que o nunca. Eu só sei que precisava estar aqui. E de qualquer forma, eu não posso pensar mais sobre essas questões porque meu pensamento já se esgotou enquanto novos dilemas existenciais não param de surgir. Eles surgiram no momento anterior à esse, e surgirão no momento posterior à esse. Mas ninguém ainda pensou em extinguir o trabalho. Ah se aquele homem que inventou as teorias trabalhistas e concluiu que este sistema era uma porcaria pudesse voltar. Ou até ele terá sido uma breve ilusão intelectual? Só sei que é noite porque eles já acionaram o apito geral. E desde a sirene do apito que eu estou aqui. Esperando que eles me acordem. Enquanto isso, sigo no meu estado de inércia natural.
(ouvir Daft Punk em demasia causa isso.)
1 Comments:
At 4:00 PM, Anonymous said…
isso me fez lembrar de:
todo dia a insonia me convence
da infinidade do ceu
se estamos aq ou n
num e oq importa
acho q a questao e
como fazer quem vc ama feliz
adorei seu texto
+ isso nunca muda ne
bjssss
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